07 Novembro 2023
"Até agora, as decisões eram tomadas pelo núncio do país em questão, que de forma muito limitada consultava a Igreja local e depois a Cúria Romana. Ora, se esse 'desejo' fosse realmente acolhido, no futuro a diocese estaria interessada a ter a palavra decisiva (talvez através dos conselhos pastorais e presbiterais) na escolha do seu pastor. Um grande exemplo de 'sinodalidade' implementada", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 06-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O papado se tornará “sinodal”? A hipótese, implementada com as necessárias precauções, poderia ser a forma que, num futuro próximo, caracterizará o exercício do ministério do Bispo de Roma na Igreja universal. Essa é a perspectiva presente nas entrelinhas do documento final do Sínodo dos Bispos, que terminou há uma semana.
O leitmotiv daquele texto foi, precisamente, a sinodalidade, isto é, a ideia de que, na sua atuação histórica, toda a rede da Igreja Católica Romana deve caracterizar-se por rezar junto, refletir junto e, finalmente, prospectar junto a melhor decisão possível para resolver um determinado problema.
E isso da paróquia, à diocese, a toda a Igreja nacional, ao mundo inteiro. Deverá, portanto, chegar ao fim o tempo em que, nas distintas situações, as decisões vêm de cima, depois de pouca ou nenhuma consulta.
Das palavras às ações. O Sínodo recém celebrado, por exemplo, sugeriu, como proposta aos candidatos ao episcopado, “equilibrar a autoridade do núncio apostólico com a participação da Conferência Episcopal. Pede-se também para ampliar a consulta do Povo de Deus, ouvindo um maior número de leigos e leigas, consagrados e consagradas, e tendo o cuidado de evitar pressões inoportunas”.
Até agora, as decisões eram tomadas pelo núncio do país em questão, que de forma muito limitada consultava a Igreja local e depois a Cúria Romana. Ora, se esse “desejo” fosse realmente acolhido, no futuro a diocese estaria interessada a ter a palavra decisiva (talvez através dos Conselhos pastorais e presbiterais) na escolha do seu pastor. Um grande exemplo de “sinodalidade” implementada.
E para o Bispo de Roma? Na situação atual (mas em essência tem sido assim há mil anos) são os cardeais que o elegem. Mas estes são todos nomeados pelo papa: portanto, o pontífice em exercício determina a assembleia restrita, cujo plenário Paulo VI fixou em 120, e que Francisco ampliou em algumas unidades.
Uma práxis que tem motivações históricas; mas será que isso funciona no terceiro milênio? Não seria mais apropriado que pelo menos metade dos que votam no conclave viesse das Conferências Episcopais sendo designada por elas? E é normal que, no século XXI, as mulheres sejam excluídas da Capela Sistina, onde se vota? É evidente que “a outra metade da Igreja” é cortada de um momento decisivo da vida do “povo de Deus”.
No que diz respeito ao exercício do ministério papal, é claro que decisões importantes não poderiam mais ser tomadas, relativas a toda a Igreja (como aconteceu com João Paulo II em relação à exclusão absoluta das mulheres dos "altos ministérios") sem primeiro uma real participação das Igrejas locais, consultadas ad hoc.
É claro que a implementação da “sinodalidade” como uma direção de funcionamento não será um passeio no parque: surgirão conflitos, tensões e reveses.
No entanto, por mais duro que seja, continua a ser o caminho régio da Igreja Romana.
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Rumo à hipótese do papado sinodal. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU